10.18234/secuencia.v0i109.1756
Artículos
Áureo carmesim:
conflitos e disputas pela exploração de ouro em Serra Pelada*
Crimson Gold:
Conflicts and Disputes Over Gold Exploration in Serra Pelada
Áureo carmesí:
conflictos y disputas
por la exploración de oro en Serra Pelada
Tallyta Suenny Araujo da Silva1**,
http://orcid.org/0000-0001-5430-6230
1Universidade Federal do Pará, Brasil, tallytasuenny@gmail.com
Resumo:
A região de Serra Pelada e arredores foi palco de
diversos conflitos relacionados com a garimpagem de ouro. Durante o
funcionamento de Serra Pelada, memórias desses conflitos ficaram registradas em
reportagens, fotografias e nos relatos e lembranças de quem vivenciou esses
momentos. O presente trabalho objetiva, refletir sobre os conflitos sociais,
políticos e econômicos que ocorreram na vila de Serra Pelada em torno do
funcionamento do garimpo e que resultaram em um episódico violento que ficou
conhecido como o Massacre de São Bonifácio. Para isso, foram levantadas fontes
escritas e reportagens televisivas. Analisando as relações de poder, verifica-se
que os garimpeiros de Serra Pelada ganharam poder e força de negociação graças
ao seu quantitativo, mas o governo sempre buscou meios de manter os garimpeiros
sobre controle, sendo o Massacre de São Bonifácio um ato de violência extremado
em reação à ameaça contra sua autoridade.
Palavras-chave: Serra Pelada; garimpagem; conflitos; guerra da Ponte.
Abstract:
The Serra Pelada region and
its surroundings were the scene of several conflicts related to gold mining.
During the Serra Pelada operation, the memories of these clashes were recorded
in reports, photographs and the stories and recollections of those who lived
through those moments. This article seeks to reflect on the social, political,
and economic struggles that took place in the town of Serra Pelada over the
mining operation, which erupted into a violent episode that became known as the
São Bonifácio Massacre. To this end, it examines written sources and television
reports. Analyzing the power relations, it would seem that although the Serra
Pelada miners gained strength and bargaining power through their numbers, the
government has always sought ways to keep the miners under control, the São
Bonifácio Massacre being an act of extreme violence in response to the threat
to its authority.
Keywords: Serra Pelada; gold mining; conflicts; guerra da
Ponte.
Resumen:
La región de Serra Pelada y sus alrededores fue escenario
de varios conflictos relacionados con la minería de oro. Durante la operación
de Serra Pelada, los recuerdos de estos conflictos quedaron registrados en
reportajes, fotografías y en los relatos y memorias de quienes vivieron estos
momentos. El presente trabajo tiene como objetivo reflexionar sobre los
conflictos sociales, políticos y económicos que ocurrieron en el pueblo de Serra
Pelada en torno al funcionamiento de la minería y que resultaron en un episodio
violento que se conoció como la Masacre de São Bonifácio. Para ello, se
revisaron fuentes escritas y reportajes televisivos. Analizando las relaciones
de poder, parece que los mineros de Serra Pelada ganaron poder y fuerza
negociadora gracias a su cantidad, pero el gobierno siempre ha buscado formas
de mantener a los mineros bajo control, siendo la Masacre de São Bonifácio un
acto de extrema violencia en reacción a la amenaza contra su autoridad.
Palabras clave: Serra Pelada; minería de oro; conflictos; guerra de Ponte.
Recibido: 10 de junio de 2019 Aceptado: 19 de febrero de
2020
Publicado: 11 de febrero de 2021
SEGURANÇA E TECNOLOGIA: A
MELHOR FORMA PARA EXPLORAR O OURO DE SERRA PELADA
A descoberta
de ouro, no final de 1979, na fazenda de Genésio em questão de meses, atraiu
vários garimpeiros para a região. O garimpo ganhou destaque a tal ponto que o
governo militar decidiu interferir na área a fim de controlar a exploração de ouro
e a evasão do minério. A exploração desse recurso e seu controle pelo Estado
brasileiro influenciaram não só o domínio sobre a exploração de um recurso e de
um espaço, mas, consequentemente, teve repercussão no modo de vida dos
indivíduos que se instalaram no garimpo de Serra Pelada, e das cidades que
foram surgindo ao redor. Serra Pelada, assim, adquiriu o caráter de um garimpo
atípico, considerando as intervenções externas as quais foi submetido (Salomão,
1984).
Segundo Salomão (1984), a
midiação em torno de Serra Pelada garantiu que o modo de produção de um grupo
social, que frequentemente esteve a margem da sociedade, se tornasse notícia
nacional. Serra Pelada virou tema de documentários, reportagens televisivas e
jornalísticas, filmes e ensaios fotográficos, durante o seu funcionamento, e
mesmo posteriormente. São várias as imagens retratando os barrancos escavados,
as pessoas transportando sacos cheios de terra para verificar a presença de
ouro, os barracões onde os garimpeiros habitavam, etc.
A exploração intensa do ouro
em um espaço relativamente reduzido foi criando uma cratera, que se tornou um
dos motivos do discurso de órgãos governamentais, que defendiam a necessidade
da interrupção da garimpagem manual, visto que a mesma não apresentava os meios
necessários para retirar o ouro em grandes profundidades de forma segura. O
embate entre fechamento e reabertura de Serra Pelada para a garimpagem manual
durou anos, embasando diversos protestos e apelos dos garimpeiros para que
Serra Pelada continuasse na mão desses trabalhadores. Um desses protestos em
específico sofreu uma resposta violenta das forças policiais a mando do
governador Hélio Gueiros, o conflito ficou conhecido como Guerra de São
Bonifácio, ou o Massacre da Ponte (Ferreira, 2019).
Este artigo objetiva revisitar
as notícias presentes em periódicos do Brasil que retratam o impasse sobre a
melhor forma de exploração do ouro de Serra Pelada. A questão tinha
implicações, que estavam para além de qual seria a melhor e a mais segura forma
de tecnologia para a retirada do minério, envolvendo questões econômicas, tanto
no que diz respeito ao lucro com o ouro, quanto ao que fazer com a mão de obra
dos garimpeiros retirados de Serra Pelada; juntamente com implicações políticas
e relações de poder (Figueiredo, 1984). Nesse sentido, a Guerra de São
Bonifácio, em 1987, foi um exemplo extremado de embate desses elementos, visto
que os interesses políticos, econômicos e a autoridade do governo entrou em
conflito com o poder adquirido pelos garimpeiros. A resposta do conflito de
poderes entre o governo paraense e os garimpeiros foi a violência, como forma
instrumental destrutiva de um desses poderes.
PODER DOS GARIMPEIROS, PODER
SOBRE OS GARIMPEIROS: EXPLORAÇÃO DO OURO E RELAÇÕES ENTRE ESTADO E GARIMPEIROS
Arendt (1994)
conceitua que o poder reside no grupo, no consentimento da maioria, é assim a
habilidade humana de agir em conjunto, que, portanto, existe enquanto o grupo
se mantém unido. Em contrapartida, a violência é um instrumento, ao qual se
recorre quando o poder que um indivíduo ou instituição detinha é contestado. Arendt
afirma ainda que a violência pode destruir o poder, dessa forma se o poder é
concedido a alguém ou a alguma instituição pela maioria, mas em determinado
momento essa maioria, ou parte dela contesta a autoridade da pessoa escolhida,
em resposta, a pessoa ou instituição eleita usa da violência para manter seu
poder e destruir o poder de quem lhe contesta.
Utilizando, portanto, a
conceituação de Arendt sobre violência e poder, no contexto do garimpo em Serra
Pelada deparamo-nos com uma situação na qual o garimpo e os garimpeiros
ganharam atenção do Brasil e do governo, adquirindo poder em decorrência do
número expressivo de pessoas que foram à Serra Pelada garimpar, e também pelas
repercussões políticas surgidas dessa massiva concentração. Em contrapartida, o
governo brasileiro tomou medidas para o controle desses garimpeiros, para
manter seu poder e a soberania nacional no controle do ouro.
Segundo o Jornal do Brasil, de 21 de abril de 1980, a descoberta de
ouro se tornou o assunto mais falado em Marabá e trouxe grande movimentação
para a cidade. Como fatores motivadores para a grande migração para os garimpos
estão a seca no Nordeste, as enchentes na Amazônia e a recessão econômica vivida
no Brasil1 (Kotscho 1984). Para
Salomão (1984), de uma forma geral, a explosão garimpeira estaria relacionada
com as políticas de ocupação acelerada para a Amazônia. A importância de Serra
Pelada foi tanta que, a quantidade de ouro extraída chegou a corresponder a 52%
do volume nacional de ouro durante a década de 1980 (Monteiro, Coelho, Cota y
Barbosa, 2010).
A fim de controlar o fluxo de
pessoas na área e a exploração de ouro, visto que ambos poderiam representar
uma ameaça à segurança nacional, em abril de 1980, o major Sebastião Curió,
juntamente com oito homens da Polícia Federal e do Exército, chegaram a Serra
Pelada para instalar um regime de controle governamental sobre o garimpo
(Kotscho, 1984; Cleary 1992; Monteiro, Coelho, Cota y Barbosa, 2010). O major
Sebastião Rodrigues de Moura, conhecido como Major Curió, já havia realizado
operações nas proximidades de Carajás, em anos anteriores, sendo o responsável
pelo trabalho de inteligência militar para combater a Guerrilha do Araguaia,
ocorrida entre 1967 e 1974.
A posse de armas individuais
foi proibida com a intervenção militar (Mathis, Brito, Brüseke, 1997; Cleary,
1992). Além do controle de possíveis ações violentas pela apreensão das armas,
a presença da força policial e da Caixa Econômica foram medidas para controlar
a compra ilegal do ouro. O exemplar do Diário da Tarde
de 9 de julho de 1980 confirma o papel fiscal e controlador da Caixa Econômica
Federal na evasão do ouro recorrente em garimpos.2
O uso “racional” e “objetivo” dos recursos compõem um discurso de longa data na
ocupação da Amazônia, e que serviu de pauta para várias práticas
intervencionistas governamentais através de projetos e instituições (Almeida,
2008). Dentro dessa lógica, o controle governamental do garimpo era,
provavelmente, defendido como racional, e, consequentemente, benéfico para o
país e para os próprios garimpeiros.
Junto com a instalação de um
banco público, o controle do ouro foi realizado também por outros métodos. Em 4
de maio de 1980, o Jornal do Brasil noticiou que a
Polícia Federal interditou o aeroporto de Marabá, a fim de impedir a decolagem
de aviões com destino à Serra Pelada que tinham como passageiros compradores de
ouro não autorizados que já vinham agindo na negociação clandestina do minério.
A entrada de novos garimpeiros
também ficou proibida. Foi implantado o registro dos garimpeiros que já se
localizavam na Serra Pelada, para impedir que novas pessoas entrassem na área
aumentando ainda mais o contingente de pessoas, que estimasse ter sido entre 80
000 a 100 000, em 1983 (Cleary, 1992).
Não obstante, como proposto
por Weber (1999) em sua teoria social, poder, dominação e disciplina têm
significados distintos, e as imposições de poder por parte do governo para
garantir o domínio sobre a exploração em Serra Pelada não implicaram em uma
obediência automática dos garimpeiros. Dessa forma, as pessoas ainda arriscavam
a sorte, sendo às vezes descobertas e expulsas do garimpo.
Observa-se, assim, que o
regime militar pretendeu de diferentes formas exercer o controle e instalar a
disciplina no garimpo, seja econômico, pela administração da comercialização do
ouro, seja social, ao fiscalizar as pessoas que entravam no garimpo, o consumo
de álcool, e, inclusive, o “patriotismo”, por meio do hasteamento da bandeira
do Brasil e reprodução do hino nacional (Cleary 1992; Kotscho, 1984). O
controle exercido no garimpo levou Kotscho (1984) a comparar o contexto de
Serra Pelada com o de um campo de concentração, já que a circulação pela área
necessitava de autorização e revista rigorosa.
Nesse sentido, observa-se uma
aproximação do contexto de Serra Pelada com a perspectiva de Foucault (1987)
sobre a disciplina. Com isso, no garimpo há a disciplina com a distribuição dos
indivíduos no espaço, tanto o espaço mais amplo que representava a área do
garimpo, quanto dos espaços de menor escala, as catas, espaço designado, sobre
o controle governamental, para cada dono de barranco e seus trabalhadores
garimparem. Têm-se assim a “cerca” e “quadriculamento” (Foucault, 1987, pp.
122-123), um local heterogêneo e fechado em si, no caso do garimpo. Fechado em
si, enquanto espaço para exploração do ouro, visto que os garimpeiros
circulavam para fora do garimpo.
Dessa forma, mais do que um
espaço disciplinar, Serra Pelada parece ser um espaço de segurança (Foucault,
2008), no qual tentou-se maximizar a coleta de ouro, que deveria ir
preferencialmente para os cofres governamentais, e minimizar os riscos e
inconvenientes que o adensamento populacional na área do garimpo poderia trazer
para as redondezas de Carajás, sem contudo atingir um ponto de perfeição, uma
“cidade disciplinar”. Um espaço de segurança que se tentava disciplinar.
O garimpo de Serra Pelada era
uma “instituição total” (Goffman, 1987) nos dias de semana, quando os diferentes
aspectos da vida social estavam concentrados na área interna da vila e se
limitava o contato social com o mundo exterior. Nos domingos, após o meio dia,
os garimpeiros saiam da vila e frequentavam bares e boates das redondezas, como
os que existiam no Km 30 da rodovia, vilarejo que posteriormente se tornou a
cidade de Curionópolis, ou para cidades mais longes como Marabá, conforme as
riquezas alcançadas em cada bamburro (Kostcho, 1984).
O controle dos corpos no
garimpo de Serra Pelada se verificava principalmente na tentativa de evitar
conflitos internos, e externos, no que diz respeito às consequências que a
retirada de milhares de pessoas do garimpo poderia trazer para os municípios da
redondeza, em questões sociais e econômicos. especialmente para a questão da
terra (Cleary, 1992; Figueiredo 1984; Mathis, 1997). Os agentes do Sistema
Nacional de Informação acreditavam que o garimpo era uma forma útil de proteger
as fazendas contra a mão-de-obra invasora desocupada (Kotscho 1984, p. 14), e a
concentração de garimpeiros também representava um grande eleitorado potencial
(Cleary 1992, p. 165).
Apesar de intervir nesses
corpos para maximizar as técnicas de retirada do ouro, havia um discurso que
considerava o garimpo manual inferior à extração mecanizada. A visão pejorativa
para com a atividade do garimpo já vinha de época mais antiga. O Código de
Mineração instituído pelo Decreto Lei núm. 227, de 28 de fevereiro de 1967,3 em seu sexto capítulo
declara a garimpagem a partir do trabalho individual e pelo uso de instrumentos
rudimentares que, que podem ser aparelhos manuais ou as máquinas simples e de
fácil transporte. Dessa forma, juridicamente, a garimpagem foi considerada como
uma técnica rudimentar de mineração, e, em alguns discursos, é possível
verificar a extensão desse caráter rudimentar a quem trabalhava dessa forma.
Barbosa (1981) compara a
imagem construída sobre a figura do garimpeiro do século xviii
com a do século xx, enquanto no primeiro caso, o garimpeiro
era tido como um herói nacional, desbravador, civilizador e povoador das
fronteiras da nação; o garimpeiro dos tempos atuais, entretanto, se opõe ao
novo modelo nacional assentado na modernidade. Com isso, na modernidade, ao
garimpeiro foram imputados atributos negativos, quase como estivessem na
“contramão da história”, visto que a história é interpretada como se fosse uma
linha de progresso e desenvolvimento. Dessa forma para o garimpeiro do século xx em diante, enfatiza-se principalmente seu caráter
atrasado, e destruidor. Destruição do meio ambiente, pelo mercúrio, e das
sociedades indígenas, por adentrarem nas terras dos povos indígenas para poder
garimpar.
Tecnicamente e culturalmente
inaptos, além de sujeitos à manipulação de ideias subversivas, os garimpeiros
necessitavam de apoio e orientações para trabalhar de forma eficiente. Tal
perspectiva perpassa pela tradição colonialista e paternalista que perdura no
Brasil de diferentes formas (ver, por exemplo, Freyre, 2003; Schwarcz, 1993).
Ideias evolucionistas e racistas frequentemente estão no fundamento das ações
colonialistas e paternalistas, visto que um povo ou um grupo é tido como
inferior e, consequentemente, precisa que seres mais instruídos, mais
evoluídos, para alcançar os patamares mais próximos da civilização.
Santos (2010) designa de
“sociologia das ausências” os discursos criados pelas epistemologias dominantes
que produziram a não existência daqueles com epistemologias distintas por meio
de sua desqualificação, tentando assim invisibilizar o “outro”, classificando-o
como não inteligível ou indesejável. Há uma racionalidade cultural que
estabelece como padrão, como correto, apenas a sua concepção de mundo. Santos
definiu cinco formas de produção de ausências: o ignorante, o atrasado, o
inferior, o local ou particular e o improdutivo ou estéril.
Na controvérsia entre
garimpagem e mineração, o governo militar estava diante de um impasse. Entre os
fatores que incentivavam o fechamento de Serra Pelada estavam a pressão do
setor de mineração e seus discursos sobre a ineficácia e falta de segurança da
garimpagem manual frente à exploração mecanizada, juntamente com a violação do
direito de lavra concedida à Companhia Vale do Rio Doce, desde 1974 (Cleary,
1992). Entre os fatores favoráveis à manutenção econômica havia a crise
econômica na qual o país encontrava-se, o aumento da cotação do ouro nos
mercados internacionais, e os perigos latentes que o fechamento do garimpo
poderia trazer, seja para a questão agrária, historicamente problemática nessa
região do Pará, seja para o projeto de mineração Carajás, tão próximo ao
garimpo de Serra Pelada. A balança acabou pesando para o lado da permanência
dos garimpeiros de Serra Pelada, peso que acabou pressionando o governo a
manter o garimpo aberto por mais tempo do que planejado.
Serra Pelada se tornou a
esperança para sanar a dívida externa. Nesse sentido, entretanto, o discurso
sobre os garimpeiros não é sempre homogêneo, cambiando entre o anonimato e o
reconhecimento dos garimpeiros na extração aurífera. O próprio major Curió, em
seus discursos matinais na Serra Pelada, reforçava entre os garimpeiros a
importância patriótica do trabalho daqueles cidadãos para sanar a dívida
externa do Brasil,4 prometendo ainda aos
garimpeiros intervir em Brasília para garantir mais vantagens para aquela
gente. Essa posição de Curió a favor da população mais pobre, segundo o jornal Movimento, em sua edição de 10 a 16 de novembro de 1980,
começou em Marabá e arredores, após a repressão da Guerrilha do Araguaia.
GARIMPAGEM OU MINERAÇÃO?: A
TRAJETÓRIA DE DISPUTAS SOBRE A MANUTENÇÃO DO GARIMPO
Ainda em 1980, a
Companhia Vale do Rio Doce já pressionava o Ministério de Minas e Energia a se
pronunciar a respeito de que a intervenção em Serra Pelada tinha caráter
provisório e que em breve a área seria entregue à Companhia (Cleary, 1992, p.
168). O fim do garimpo manual estava previsto para o ano de 1981,
consequentemente, como mencionado pelo jornal de Tocantins de dezembro de 1980,
a preocupação dos garimpeiros já existia desde o ano anterior.
Para reforçar a necessidade da
lavra mecanizada, utilizou-se como argumento o perigo representado pelos
desabamentos dos barrancos. O jornal Alto Madeira
de 10 de outubro de 1981, menciona que o acidente ocorrido na primeira semana
de outubro reforçou a medida existente já há algum tempo sobre a desativação do
garimpo.5 Ainda nesta edição do Alto Madeira, o Diretor-Geral do Departamento Nacional de
Produção Mineral (dnpm), Yvan Barreto, menciona que no
ano de 1981, a produção de ouro estava estimada para onze toneladas, apesar da
extração desse ouro estar sofrendo riscos devido aos vários desabamentos que
vinham ocorrendo, consequência do que Yvan designou “buraqueira que foi feita
sem nenhuma coordenação” pelos garimpeiros.6
Não obstante, a tão esperada
transferência para a lavra mecanizada por uns também não se concretizou em
1982. No final de 1981, em reportagem do jornal Diário da
Tarde de 14 de dezembro, Curió já anunciara que a lavra mecanizada seria
adiada para 1983,7 pois a extração manual
ainda era considerada viável em 1982, apesar dos vários empecilhos ocasionados
por desmoronamentos e pelas escavações terem atingido o lençol freático, pois o
governo estava realizando o rebaixamento das paredes do garimpo e a drenagem da
água que infiltrava. Para 1982, a produção oficial do ouro foi de 6 820 kg,
aproximadamente 260% a mais do que no ano anterior (Mathis, Brito y Brüseke,
1997, p. 135).
Afora a rentável produção de
ouro e de ser um meio para conter os conflitos sociais, Serra Pelada se tornou
um local também interessante para a obtenção de votos. Para conseguir a maior
quantidade de votos possíveis, o sistema de controle de acesso ao garimpo foi
suavizado, facilitando a entrada e permanência dos “furões” no garimpo, o que
iria, consequentemente, aumentar a possibilidade de votos (Cleary, 1992; Kostcho,
1984). Devido a essa estratégia, em 1982, o contingente de garimpeiros em Serra
Pelada chegava a 45 000 homens.
Apesar das vantagens
eleitorais, como em Serra Pelada sempre estiveram em jogo interesses diversos,
as pressões para a adoção da técnica de exploração mecanizada continuaram. O Diário da Tarde de 21 de
janeiro de 1983, expõe que, segundo o ministro Cesar Cals, O Ministério das
Minas e Energias já havia estudado a retirada dos garimpeiros, que ocorreria
apenas nas áreas onde a extração manual fosse insegura.8
Se para a teoria hobbesiana, a
segurança do povo era um objetivo do Estado (Hobbes, 1983), e que atualmente
considera-se como uma das funções fundamentais do Estado (Weber, 1999), o
discurso de segurança também ser compreendido como uma maneira de instituir o
funcionamento de estruturas da lei e da disciplina (Focault, 2008). O discurso
de segurança para o garimpo era, portanto, uma forma renovada para pôr
novamente em ação o poder governamental de controle sobre a extração do ouro de
Serra Pelada.
O Diário
da Tarde de 24 de setembro de 1983 informa que quatro áreas do garimpo,
“Malvinha”, “Serrinha”, “Segurança da Planada” e “Planada” tinham sido
interditadas, o que resultou em aproximadamente a proibição de extração em
aproximadamente 60% da área do garimpo.9
A reportagem comenta que as fortes chuvas que caiam na região alagaram o fundo
da cava, dificultando ainda mais a tentativa de secar a área com as bombas de
sucção já utilizadas para combater a água que vinha dos lençóis freáticos (ver
mapa 1).
Mapa 1. Organização da área do garimpo
e divisão da cava de Serra Pelada
Esse seria o último ano da
extração manual, pois, novamente, o prazo para a saída dos garimpeiros foi
estabelecido: 15 de novembro (Kostcho, 1984, p. 20). Alegava-se que os
garimpeiros de Serra Pelada seriam transferidos para os garimpos de Cumarú, no
rio Xingu, e do rio Tapajós, como informado pelo Jornal do
Brasil de 21 de abril de 1983.10
Entretanto, os anos de 1983 e 1984 representaram um acirramento no embate da
permanência ou interrupção da garimpagem manual, nesse período, os garimpeiros
se articularam de diferentes maneiras para permanecer na Serra Pelada.
Uma das estratégias para manter
a extração manual foi o discurso sobre a dívida externa. Se em um primeiro
momento, o discurso patriótico de que o ouro de Serra Pelada poderia salvar o
Brasil da dívida externa foi proferido pelos governantes para os garimpeiros,
nesse novo impasse entre extração mineral e mecanizada, os garimpeiros que
iriam utilizar esse argumento para tentar permanecer em Serra Pelada, à fim de
ajudarem a sanar as dívidas da nação. O Diário de
Pernambuco em 11 de setembro de 1983 informa que os garimpeiros
prometeram doar 10% que seria extraído caso eles pudessem continuar a trabalhar
na cava.11
Os garimpeiros procuraram se
mobilizar de diferentes formas, ainda que em certos momentos sofressem
repressão governamental. O Jornal do Brasil de 18
de abril de 1983 anuncia que garimpeiros de Marabá foram proibidos pela Polícia
Federal de se reunirem, entretanto, a mobilização ocorria em diferentes lugares
a fim de impedir o fechamento do garimpo.12
Quando o deputado Curió lançou seu projeto para a permanência do garimpo,
segundo matéria do Jornal do Brasil de 1 de outubro
de 1983, uma caravana de 100 ônibus que conduziam 3 000 garimpeiros se dirigiu
à Brasília para apoiar o deputado.13
A caravana foi organizada pelo Sindicado dos Garimpeiros, que antes tinha pouca
atuação, mas em decorrência da iminência do fechamento de Serra Pelada iniciou
medidas para prevenir tal acontecimento. Os garimpeiros apelaram à imprensa,
aos sindicatos de metalúrgicos de todo o Brasil, aos políticos e a entidades
como a Ordem dos Advogados do Brasil, e em pouco tempo, o sindicato dos
garimpeiros apresentava 3 465 associados (Kostcho, 1984, pp. 71-73).
Além do acompanhamento ao
projeto do deputado Curió, como tentativa de pressão política, os garimpeiros
também recorreram ao meio jurídico, entrando com uma liminar em Marabá, visando
manter o garimpo (Kostcho, 1984, p. 57). Corriam notícias ainda de uma possível
resistência armada, com boatos de que a Polícia Federal teria apreendido
metralhadoras e revólveres em Serra Pelada (Kostcho, 1984, pp. 22, 57). No Diário de Pernambuco de 11 de setembro de 1983, os
garimpeiros lembraram que o Ministério das Minas e Energia havia concedido 6
000 concessões de lavra, e que, se fosse necessário entrariam com um mandado de
segurança para a manutenção da posse das áreas concedidas para lavra.
A reação dos que desejavam o
fim do garimpo foi em alguns momentos mais enérgica do que os já mencionados
discursos de inferioridade da extração manual em comparação à mecanizada, ou do
discurso sobre a preocupação com a segurança e vida dos garimpeiros. O jornal Luta Democrática de 19 de outubro de 1983 relata que
Curió teria denunciado a violência infligida contra os garimpeiros,14 quando policiais armados
com metralhadoras, a mando do Departamento Nacional de Mineração, teriam
espancado, na sexta-feira do dia 14 de outubro, alguns garimpeiros em Serra
Pelada e danificado seus equipamentos.
A cisão de interesses era
crescente, pois os locais beneficiados pelo garimpo tinham receios sobre as
consequências que a abrupta interrupção causaria. Antes da anunciada data de
fechamento do garimpo, Figueiredo, em 30 de setembro de 1983, decidiu retirar a
coordenação do garimpo das mãos do Serviço Nacional de Informação (sni) e transferi-lo para o dnpm,
que seria, assim, o responsável pela retirada dos garimpeiros (Mathis, 1995). A
expulsão dos garimpeiros, entretanto, não ocorreu, Figueiredo em novembro cedeu
às pressões dos grupos que defendiam a manutenção da garimpagem.
Com a vitória da lavra manual,
o dnpm declarou que também sairia da coordenação do
garimpo de Serra Pelada, mas ao órgão ainda estava incumbida a decisão de
autorizar as obras de rebaixamento e medidas de segurança na cava, o que
limitou as conquistas que os garimpeiros aparentemente tinham adquirido.
Valendo-se desse poder, o dnpm atrasou seu veredito, causando
apreensão entre os garimpeiros nos primeiros meses de 1984.15
Pela matéria do jornal Luta Democrática de 21 de fevereiro de 1984 é possível
inferir o possível motivo do atraso na liberação das obras na cava.16 O Departamento mantinha
sua posição contrária a manutenção da garimpagem por ser uma medida contrária
ao direito de lavra concedido primeiramente a Companhia Vale do Rio Doce. Na
reportagem do Luta Democrática, o Incra manifestou
seu apoio ao dnpm ao afirmar que não iria apoiar a
constituição da cooperativa de garimpeiros.
A resistência do setor mineral
e seus aliados novamente enfrenta a união dos garimpeiros que em maio de 1984
se reuniram, em número aproximado de 20 000, nas cidades de Imperatriz e de
Marabá em Assembleia Geral, momento em que foi decidido o estabelecimento de um
prazo para o ministro César Cals assinasse a portaria que reabriria a
garimpagem, caso contrário, estariam dispostos a tomar decisões mais drásticas,
como a invasão da Serra Pelada e o fechamento de rodovias importantes na região
do Pará.17
O prazo estabelecido foi de 13
de maio de 1984,18 e na véspera do término
desse prazo, a tensão chegou tal ponto que os garimpeiros em Serra Pelada
ameaçaram derrubar a tiros um helicóptero da Companhia Vale do Rio Doce (cvrd), enquanto em Marabá, soldados da 23ª Brigada da
Infantaria do Exército tomaram diversas precauções contra possíveis atos dos
garimpeiros, como a ocupação da ponte sobre o rio Itacaiúnas e a realização de
manobras ao longo da rodovia Transamazônica.19
O conflito não foi deflagrado
no dia 13, visto que as obras de rebaixamento foram finalmente autorizadas por
Figueiredo. Não obstante, como a liberação para a garimpagem não se
concretizou, na primeira quinzena de junho os garimpeiros voltaram a protestar.
O jornal Correio de Notícias de 8 de junho de 1984
apresentou matéria que anunciava a interdição de estradas, depredação de
prédios, destruição parcial de uma ponte e o incendeio de carros ocorridos nos
estados do Pará e do Maranhão.20
Além desses atos, os garimpeiros em Parauapebas sequestraram um major da
Polícia Militar paraense que tentava negociar com os manifestantes.21
A mesma matéria noticiou o
quase embate físico entre a Polícia Militar e os garimpeiros, que tentavam
destruir o aeroporto de Carajás e outras instalações da Companhia Vale do Rio
Doce. Mesmo diante desses eventos, Figueiredo declarou que decisões não seriam
tomadas sob pressão, visto que a demora na sanção era para garantir a segurança
dos garimpeiros.22
O ano de 1985 foi igualmente
problemático para a garimpagem. Conflitos internos sugiram com denúncias de
irregularidades na administração da Cooperativa dos Garimpeiros de Serra Pelada
(Cooagar), de proibição, com uso de força, do trabalho em algumas áreas da
cava, de aprisionamento de garimpeiros, de grilagem de barrancos e de
contrabando de ouro.23 A dívida contraída pela
Coogar aumentava paulatinamente, e, a semelhança com a dívida externa do
Brasil, não importava quanto ouro fosse retirado do garimpo, a quantia não era
suficiente para o endividamento contraído para as obras de rebaixamento.24
O acirramento em 1986 das
relações entre garimpeiros e a polícia teve repercussões que irromperam no ano
seguinte, na repressão policial que foi designada como Guerra de São Bonifácio.
A desavença teve como fator desencadeador o assassinato de um garimpeiro por um
policial militar, acontecimento que revoltou os garimpeiros de Serra Pelada,
que em revide lincharam o policial, destruindo e ateando fogo no alojamento da pm, na Delegacia de Serra Pelada25 e da Coogar.26
Segundo matéria do Diário do Pará de 14 de outubro de 1986,27 o desentendimento
começou quando um dos trabalhadores diaristas atingiu com uma pedra o soldado
da pm, que em represália atirou com seu
fuzil. O conflito resultou na morte de dois garimpeiros e mais oito feridos,28 juntamente com a
expulsão de oito policiais civis e 25 soldados da Polícia Militar.29 A morte do garimpeiro
teria sido apenas o estopim de fatores acumulados, pois os garimpeiros há muito
tempo já estavam contrariados com o roubo de cascalho, a ser processado para
verificar presença de ouro, além de outras arbitrariedades cometidas pela
Polícia Militar, e com a Coogar, acusada de cometer várias irregularidades.30
O EMBATE DOS PODERES: PROTESTO
DOS GARIMPEIROS E VIOLÊNCIA GOVERNAMENTAL
Em 1987, os
garimpeiros conseguiram uma prorrogação temporária, o garimpo deveria ser
encerrado em junho, mas o prazo foi estendido até o dia 31 de dezembro, data
que poderia ser outra vez alterada, caso fosse comprovada que a exploração
manual ainda seria segura.31
Ao se aproximar o final do ano, nas primeiras horas do dia 28 de dezembro,
milhares garimpeiros ocuparam a ponte sobre o Tocantins, visando conquistar
garantias para a manutenção do garimpo e o pagamento do dinheiro devido à
Coogar pelo paládio coletado entre o ouro.32
A estrada de ferro da cvrd também ficou interditada
(Ferreira, 2019).
Apesar do diálogo com
representantes da Prefeitura de Marabá e do Governo do Estado ter sido iniciado
no mesmo dia, os garimpeiros afirmaram que o desbloqueio da ponte só ocorreria
caso suas exigências fossem acatadas.33
As polícias Federal e Militar se dirigiram ao local para observar a situação na
área, sem, entretanto, intervir nesse primeiro momento.
Um pacto teria sido iniciado
pelo qual seria garantido o rebaixamento emergencial dos taludes com a
contratação de uma empresa chamada Construmil. Essa medida garantiria o
funcionamento do garimpo durante 20 dias, até que fosse realizada uma licitação
que promoveria o rebaixamento definitivo (Ferreira, 2019). No pacto também
estava incluso a realização de investimentos para melhorar a qualidade de vida
e moradia em Serra Pelada. Entretanto, tal acordo acabou não sendo aceito pelos
garimpeiros, visto que no mesmo não estaria garantida a liberação definitiva
para que a extração do ouro continuasse pela garimpagem, o que provocou
desconfiança entre os garimpeiros, que acharam que aquela era apenas mais uma
tentativa de ganhar tempo para depois tentarem proibir a lavra manual
(Ferreira, 2019).
Novas propostas foram feitas
no dia seguinte, mas as lideranças dos garimpeiros ao deixar a sede da
Prefeitura de Marabá ouviram que ordens já haviam sido dadas para o desbloqueio
da ponte (Ferreira, 2019). A repressão violenta da polícia ocorreu na tarde do
dia 29 de dezembro, aproximadamente às 19h.34
Hélio Gueiros autorizou o desbloqueio da ponte ocupada como uma forma de
“demonstração de força” contra os garimpeiros manifestantes35 que não aceitaram a
negociação para a suspensão do bloqueio.36
Com isso, uma tropa de 340 policiais atirou contra os manifestantes,
atacando-os e perseguindo-os durante quinze minutos (Ferreira, 2019). Um grupo
de 300 policiais teria começado o ataque pelo lado de Marabá, enquanto os
demais 40 membros da tropa teriam cercado os garimpeiros pelo lado oposto da
ponte, que se interliga com o município de São Félix (Ferreira, 2019).
Em depoimento, o governador
criticou as ações da Polícia Federal no garimpo, que estariam extrapolando de
suas atribuições, e ainda a Nelson Marabuto, um dos integrantes do Grupo de
Trabalho criado pelo Congresso para discutir sobre os problemas de Serra
Pelada, por fazer promessas inviáveis aos garimpeiros.37
É possível que a ação autorizada por Gueiros não fosse demonstração de força
apenas aos garimpeiros, mas também à Policia Federal, à Marabuto e ao governo
central, à fim de mostrar seu poder sobre o território (Ferreira, 2019). O Jornal do Brasil de 31 de dezembro de 1987 menciona que
cerca 200 soldados da Polícia Militar atacaram os manifestantes.
As primeiras notícias sobre as
vítimas da repressão policial falavam de duas mortes: Maria Valdenora de Souza,
que estava grávida, e um rapaz conhecido como Careca, juntamente com onze
feridos;38 a quantidade de vítimas
variava a cada matéria de jornal, mas os números admitidos pela polícia e pelo
governo do estado eram inferiores ao número de desaparecidos estimado pelos
garimpeiros. Uma das versões narradas diz que os soldados avançaram por um lado
da ponte, deixando uma lateral livre para a saída dos garimpeiros, a ação
seguia tranquila até um garimpeiro ter atingido um dos policiais com uma pedra,
tiros para o alto teriam sido usados como advertência, não obstante, os
garimpeiros teriam sido insuflados a resistirem, utilizando armas se fosse
preciso, com isso a polícia disparou contra os manifestantes.39 Em outra versão, a
polícia teria chegado já atirando, no momento em que vários garimpeiros estavam
em fila, para receber rações.
Os policiais teriam
assassinado primeiro um casal de garimpeiros na estação de passageiros da
empresa Transbrasiliana e depois seguido para a ponte sobre o rio Tocantins,
onde além de usarem armas de fogo, também agrediram os garimpeiros com
cassetetes, chutes e socos. Durante o ocorrido, algumas pessoas teriam sido
pisoteadas, e outras pularam da ponte, se jogando no rio Tocantins para tentar
escapar.40
Além de atacar os garimpeiros
que estavam bloqueando a ponte em Marabá, os policiais teriam impedido à força
um grupo que se encontrava em Parauapebas e que se dirigia para o bloqueio em
Marabá.41 Estima-se que 25 pessoas
saíram feridas desse confronto com a polícia. Segundo os garimpeiros, o grupo
seguia pacificamente em direção à Marabá, quando foram surpreendidos pelos
policiais, além da violência sofrida, os garimpeiros teriam sido saqueados
durante o conflito.
A violência deflagrada pela
Polícia Militar sob as ordens de Hélio Gueiros, também foi alvo de crítica da
Polícia Federal. Os agentes federais se posicionaram a favor das denúncias dos
garimpeiros de que houve mais mortes do que as oficialmente declaradas, e de
que os corpos de outros garimpeiros que teriam morrido durante o conflito foram
recolhidos e escondidos pela Polícia Militar.42
As denúncias de ocultação dos cadáveres relatavam que um ônibus da empresa
Transbrasiliana teria sido usado para esconder e transportar os corpos, assim
como uma Kombi policial, que teria desaparecido com quatro cadáveres,
cogitava-se ainda que um sepultamento clandestino realizado no cemitério de
Marabá poderia ser de um garimpeiro gravemente ferido, que foi retirado do
hospital por guardas da Polícia Militar43
(Ferreira, 2019). A ação investigativa da Polícia Federal sobre o massacre, não
obstante cessou, alguns dias depois.44
O massacre e o governador do Pará também foram criticados por outros políticos,
partidos e entidades brasileiros que tentaram responsabilizar Gueiros
judicialmente.45
As declarações feitas pelos
garimpeiros descrevem atos de violência indevida e extremada. Alegava-se que
uma mulher grávida de sete ou oito meses teria sido jogada da ponte por
soldados da pm; que um garoto de seis ou sete
também teria sido lançado da ponte; que um garimpeiro teria sido sequestrado
pela pm, ao ser colocado dentro de um Fusca;
além da morte de garimpeiros fora da área da ponte do rio Tocantins, o que
sugere que a pm teria perseguido os garimpeiros.46
A matéria no volume especial
de O Estado de São Paulo, de 19 de dezembro de 2010, declara que além da
Polícia Militar, o Exército também teria participado do massacre, oferecendo
apoio e logística. Segundo testemunha, o Exército teria ficado acampado do lado
direito de quem sai de Nova Marabá, enquanto a Polícia Militar do lado
esquerdo, em São Félix. Os policiais teriam cercado os dois lados da ponte e
atacado primeiro com gás de pimenta e depois avançaram sobre os protestantes,
atirando com metralhadoras e fuzis calibre .765.47
A repressão teria aparentemente se prolongado dias após o ataque, visto que os
garimpeiros acreditam que uma das testemunhas teria sido morta a pauladas por
um grupo desconhecido, após ter dado entrevista à TV Liberal afirmando que
teria visto oito cadáveres.48
Dez dias após o ocorrido,
contrariando a previsão dos garimpeiros, os corpos dos garimpeiros que teriam
se jogado ou sido lançados no rio Tocantins pelos policiais, ainda não tinham
aparecido,49 mas os garimpeiros
estimavam que 133 pessoas ainda estavam desaparecidas.50
Mesmo após um laudo investigativo da polícia federal denunciando a brutalidade
do ocorrido, prevaleceu a impunidade.
Ainda que o governador Hélio
Gueiros tenha lamentado os “danos fatais” ocorridos na repressão aos
manifestantes,51 seu discurso e o da
polícia52 evidenciam que o uso da
força era necessário para que o governo não fosse desmoralizado. A perda de
autoridade é uma das condições propícias para o uso da violência (Arendt,
1994), e o estado se favoreceu da condição de monopólio do uso legítimo da
força que possui na aplicação da ordem (Weber, 1999), como justificativa de seu
ato repressivo e agressivo. Hélio Gueiros alegou que tinha se comprometido em
atender as reivindicações dos garimpeiros, mas que estes insistiram no bloqueio
da ponte, não acreditando em sua palavra, e atrapalhando a ordem local, pois
estariam ocorrendo saques em caminhões com produtos alimentícios, e o bloqueio
estava impossibilitando a circulação na ponte, o que supostamente estaria
preocupando a população de Marabá.53
O massacre na ponte não
representou o fim do garimpo de Serra Pelada, que foi oficialmente fechado em
1992, nem igualmente representou o último ato de violência que os garimpeiros
tiveram que enfrentar. Em 2014, outro conflito entre garimpeiros e a Polícia
Militar aconteceu. Em reportagem televisiva no Câmera Record aparecem imagens
de um protesto com 7 000 garimpeiros, com idade média de 65 anos. Na reação da
polícia, tiros e bombas foram disparados, pelas imagens vemos garimpeiros
feridos na perna, mão, braço e pés. O ataque continuou, mesmo com feridos no
chão e com o recuo dos manifestantes. Nesse caso, computaram-se 25 feridos.
DISCUSSÃO
O caso de Serra
Pelada exemplifica as questões de disputa de poder entre sociedade e estado e
tentativa de controle dos corpos pelo poder governamental. Serra Pelada ganhou
destaque na história devido ao grande número de garimpeiros que se concentraram
em um espaço em busca do sonho do bamburro. Para evitar conflitos na região, o
governo militar implantou várias medidas para exercer seu poder sobre os
garimpeiros, proibindo o uso de armas na vila, consumo de bebidas alcóolicas e
a presença de mulheres, e durante um tempo, a entrada de novos garimpeiros.
Entretanto, esse controle estava restrito à corrutela, sendo permitido aos
garimpeiros circular por outras cidades.
Há, portanto, uma distinção
entre o espaço dentro e fora do garimpo. A tentativa de aplicação de uma
disciplina estava limitada ao espaço do garimpo, visto que o governo militar
não exercia o mesmo controle social e econômico na vida dos garimpeiros nas
cidades e vilas que já existiam e foram surgindo em torno do garimpo. Além de
que, como mencionado ao longo deste artigo, as tentativas de disciplinalização
não impediram que as pessoas procurassem meios de descumprir as regras
impostas, os corpos, portanto, não eram tão dóceis.
Nessa busca desenfreada pelo
ouro, outro destaque produzido foi a grande cava, que virou posteriormente
argumento de segurança para a finalização da lavra manual, e, portanto, de
disputa de poder. Enquanto os garimpeiros protestavam por seus direitos de
permanecerem a explorar o ouro, por já terem, inclusive, movido uma montanha
nas costas, e ajudarem a sanar a dívida externa, algumas entidades
governamentais, como a Companhia Vale do Rio Doce e o dnpm,
apontavam o baixo aproveitamento da lavra manual e os riscos de acidentes
devido ao desabamento dos taludes.
As disputas de poder
continuaram durante todo o funcionamento do garimpo com o poder governamental
tentando ditar sobre o período em que o garimpo estaria aberto ou fechado para
a lavra, sobre as áreas de catas que deveriam ser interditadas ou proibidas de
serem garimpadas até segunda ordem. Enquanto os garimpeiros insatisfeitos com
as tentativas de fechamento e controle da extração de ouro se uniam em
protestos, reafirmando seu poder enquanto grupo, e, portanto, grande
contingente que poderia causar reacender os conflitos históricos na área.
Se até 1987, as disputas entre
garimpeiros e o governo foram resolvidas sem grande violência, o Massacre de
São Bonifácio, contrariamente, foi uma resolução sangrenta que não concedeu aos
protestos dos garimpeiros, mas não garantiu também os desejos das entidades que
desejavam a lavra manual. Arendt (1994) afirma que poder e violência são termos
opostos, pois a violência é acionada devido a desintegração, ou no caso do
Massacre da Ponte, do receio da desintegração do poder. Esse aspecto ficou
evidenciado no massacre contra os garimpeiros durante a fala de Hélio Gueiros,
que justificou tal ato como uma medida para que seu governo não ficasse
desmoralizado. A violência utilizada foi, assim, mais uma das formas que as
autoridades governamentais utilizaram para tentar controlar os garimpeiros.
CONCLUSÃO
A descoberta de
ouro em Serra Pelada atraiu um grande contingente de pessoas para a região de
Carajás. Além do atrativo causado pelo ouro, o contexto vivido nas redondezas
do novo garimpo e no restante do Brasil favoreceram o deslocamento
populacional. A concentração de pessoas se tornou logo um problema que
precisava ser controlado para evitar conflitos agrários e outros empecilhos
para o projeto de mineração em Carajás. Para resolver esse problema, o governo
militar assumiu o controle administrativo de Serra Pelada, deixando no comando
o Major Sebastião Curió. Controlar o espaço interno do garimpo era controlar a
extração do ouro, cujo único comprador legalizado, a Caixa Econômica Federal,
instalou um posto em Serra Pelada.
Se manter o garimpo aberto, em
um primeiro momento, fora vantajoso para garantir que aquelas milhares de
pessoas que para lá se deslocaram se mantivessem ocupadas em atividade que
estava rendendo várias toneladas de ouro, posteriormente, o governo vislumbrou
outro benefício para o garimpo de Serra Pelada: milhares de eleitores. O número
de garimpeiros se tornou, assim, um tipo de poder, que, ao mesmo tempo, poderia
ameaçar a ordem que o governo queria manter, ou garantir essa ordem, ao eleger,
candidatos de interesse governamental. Com grandes vantagens e temerosas
desvantagens, a lavra manual prosseguiu em Serra Pelada, à despeito das
críticas realizadas pelos técnicos do dnpm.
Se a extração mecanizada era supostamente a técnica mais eficaz, a tecnologia
da garimpagem era, naquele momento, a mais “poderosa”.
Nesse jogo de poderes, a
mineração só sairia definitivamente vencedora no ano de 1992, até essa data, o
embate prosseguiu entre os garimpeiros que reivindicavam por seu direito de
explorar o ouro. Até 1987, os garimpeiros conseguiram se beneficiar do seu
número como poder de barganha para alcançar seus objetivos, ainda que os ganhos
fossem parciais. Entretanto, nesse ano, o governador Hélio Gueiros menosprezou
o poder numérico dos garimpeiros que protestavam, valendo-se da violência como
afirmação de autoridade e poder, O Massacre da Ponte de 1987, não foi um
conflito para encerrar o garimpo, mas sim decorrente de uma afirmação de quem
detinha a autoridade para determinar a continuação ou término da manifestação.
Nesse embate, mais uma vez foi utilizado o discurso de necessidade de controle
da segurança para justificar as ações tomadas. Segurança para o estado ameaçado
pelo bloqueio da ponte sobre o rio Tocantins, e, principalmente, segurança para
o governo que deveria manter sua autoridade e poder.
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Jornal do Comércio.
Jornal dos Sports.
Luta Democrática.
Movimento.
O Estado de São Paulo.
Última Hora.
1 Para uma análise da migração dos trabalhadores rurais
do Nordeste para a Amazônia, ver, por exemplo, Araújo (2015). Para a relação
dos moradores de Marabá com as enchentes, ver, por exemplo Almeida (2011). Para
as consequências da situação econômica no Brasil com as políticas adotadas para
a garimpagem, ver, por exemplo Mathis (1997) e Salomão (1984).
2 “Ouro poderá pagar a dívida externa”, Diário da Tarde, ano 81 n. 23244, Curitiba, 9 de julho de
1980, p. 4.
3 Decreto-Lei núm. 227, de 28 de fevereiro de 1967.
Código de Mineração. Recuperado de http://www2.camara.leg.br/legin/fed/declei/1960-1969/decreto-lei-227-28-fevereiro-1967-376017-publicacaooriginal-1-pe.html
4 “Nós falamos com o venerado e temido homem da selva. O
homem deste governo. O major Curió”, Movimento, ano
0, núm. 266, Rio de Janeiro, 4 a 10 de agosto de 1980, pp. 12-13.
5 “Garimpo da Serra Pelada perto de desativação”, Alto Madeira, ano lxiv
núm. 13858, Porto Velho, 10 de outubro de 1981, p. 2.
6 “Falta verba para descobrir o ouro”, Alto Madeira, ano lxiv
núm. 13858, Porto Velho, 10 de outubro de 1981, p. 6.
7 “Serra Pelada será aberta ao garimpeiro”, Diário da Tarde, ano 81, núm. 23779, Curitiba, 14 de
dezembro de 1981, p. 5.
8 “Retirada”, Diário da Tarde,
ano 83, núm. 24299, Curitiba, p. 5, 21 de janeiro de 1983.
9 “Interdição”, Diário da Tarde,
ano 84, núm. 24507, Curitiba, 24 de setembro de 1983, p. 6.
10 “Garimpo de ouro vai para Xingu”, Jornal do Brasil, ano xciii,
núm. 13, Rio de Janeiro, 21 de abril de 1983, p. 18.
11 “Garimpeiros prometem doar ouro para reduzir dívida
externa do País”, Diário de Pernambuco, ano 158,
núm. 251, Recife, 11 de setembro de 1983, p. 16.
12 “Garimpeiros ameaçados de perder Serra Pelada levam
tensão a Marabá”, Jornal do Brasil, ano xciii, núm. 10, Rio de Janeiro, 18 de abril de 1983,
p. 12.
13 “Garimpeiros irão a Brasília defender lavra em S.
Pelada”, Jornal do Brasil, ano xciii, núm. 176, Rio de Janeiro, 1 de outubro de 1983,
p. 4.
14 “Ouro de Serra Pelada foi vendido, diz Curió”, Luta Democrática, ano xxx,
núm. 8637, Rio de Janeiro, 19 de outubro de 1983, p. 3.
15 “Serra Pelada”, Última Hora,
ano xxxiii, núm. 11245, Rio de Janeiro, 2
de abril de 1984, p. 2.
16 “Incra não aprovará cooperativa de garimpeiros de Serra
Pelada”, Luta Democrática, ano xxxi, núm. 8724, Rio de Janeiro, 21 de fevereiro de
1984, p. 3.
17 “Revolta domina garimpeiros”, Última
Hora, ano xxxiii, núm. 11 276, Rio de Janeiro, 8
de maio de 1984, p. 3.
18 “Tensão aumenta em Serra Pelada”, Última Hora, ano xxxiii,
núm. 11 278, Rio de Janeiro, 10 de maio de 1984, p. 8.
19 “Garimpeiros fazem festa na Serra”, Última Hora, ano xxxiii,
núm. 11 306, Rio de Janeiro, 12 de maio de 1984, p. 3.
20 “Serra Pelada: zona do garimpo em guerra”, Correio de Notícias, ano iv,
núm. 886, Curitiba, 8 de junho de 1984, p. 3.
21 “Garimpo: cresce a tensão. Major capturado”, Correio de Notícias, ano iv,
núm. 887, Curitiba, 9 de junho de 1984, p. 6.
22 “Exército pode intervir em Serra Pelada”, Correio de Notícias, ano iv,
núm. 887, Curitiba, 9 de junho de 1984, p. 7.
23 “Garimpeiros de Serra Pelada denunciam a Cooperativa.
Garimpeiros estão contra os dirigentes e solicitam sindicâncias”, Diário do Pará, ano iii,
núm. 680, Belém, 22 de janeiro de 1985, p. 6.
24 “Ouro não está dando”, Jornal dos
Sports, ano lv, núm. 17368, Rio de Janeiro, 3 de
outubro de 1985, p. 3.
25 “Garimpeiros incendeiam quartel e expulsam pm de Serra Pelada”, Jornal do
Brasil, ano xcvi, núm. 188, Rio de Janeiro,13 de
outubro de 1986, p. 6.
26 “Cooperativa Atribui a Inconformados”, Jornal do Brasil, ano xcvi,
núm. 190, Rio de Janeiro, 15 de outubro de 1986, p. 17.
27 “Garimpeiros querem a volta da PM à Serra”, Diário do Pará, ano iii,
núm. 1209 X, Belém, 14 de outubro de 1986, p. 16.
28 “PF é inculpada por conflito ocorrido em Serra
Pelada”, Jornal do Comércio, ano 160, núm. 12, Rio
de Janeiro, 14 de outubro de 1986, p. 10.
29 “Garimpeiros incendeiam quartel e expulsam pm de Serra Pelada”, Jornal do
Brasil, ano xcvi, núm. 188, Rio de Janeiro, 13 de
outubro de 1986, p. 6.
30 “Garimpeiros só negociam com Jader”, Jornal do Brasil, ano xcvi,
núm. 189, Rio de Janeiro, 14 de outubro de 1986, p. 12.
31 “Prorrogado o prazo de garimpagem em Serra Pelada”, Diário do Pará, ano iv,
núm. 1378, Belém, 26 de abril de 1987, p. 8.
32 “Garimpeiros de Serra Pelada fecham a Ferrovia de
Carajás”, Jornal do Brasil, ano xcvii, núm. 264, Rio de Janeiro, 29 de dezembro de
1987, p. 4.
33 “Garimpeiros param Marabá”, Diário
do Pará, ano v, núm. 1623, Belém, 29 de dezembro de
1987, p. 1.
34 “pm mata cinco garimpeiros e libera a
ferrovia no Pará”, Jornal do Brasil, ano xcvii, núm. 265, Rio de Janeiro, 30 de dezembro de
1987, p. 4.
35 “Hélio: Demonstração de Força para Desestimular
Garimpeiro”, Diário do Pará, ano v, núm. 1625, Belém, 31 de dezembro de 1987, p. 12.
36 “pm do Pará intervém junto a
garimpeiros”, Jornal do Comércio, ano lxxxiv, núm. Últimas Notícias, Manaus, 30 de dezembro
de 1987, p. 12.
37 “pm pode ter massacrado 100 garimpeiros
em Marabá”, Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, ano xcvii, núm. 267, 2 de janeiro de 1988, p. 5.
38 “Tumulto na desobstrução da Ponte do Tocantins em
Marabá”, Diário do Pará, ano v,
núm. 1624, Belém, 30 de dezembro de 1987, p. 12.
39 “Tumulto na desobstrução da Ponte do Tocantins em
Marabá”, Diário do Pará, ano v,
núm. 1624, Belém, 30 de dezembro de 1987, p. 12.
40 “pm mata cinco garimpeiros e libera a
ferrovia no Pará”, Jornal do Brasil, ano xcvii, núm. 265, Rio de Janeiro, 30 de dezembro de
1987, p. 4.
41 “pm mata cinco garimpeiros e libera a
ferrovia no Pará”, Jornal do Brasil, ano xcvii, núm. 265, Rio de Janeiro, 30 de dezembro de
1987, p. 4.
42 “Delegado federal acusa pm
de brutalidade na ação de Marabá”, Jornal do Brasil,
ano xcvii, núm. 266, Rio de Janeiro, 31 de
dezembro de 1987, p. 4.
43 “pm massacrou garimpeiros, afirma
relatório feito pela Polícia Federal”, Folha de São Paulo,
ano 68, núm. 10104, São Paulo, 6 de janeiro de 1988, p. 12.
44 “Governo manda aprofundar as cavas de Serra Pelada”, Jornal do Brasil, ano xcvii,
núm. 273, Rio de Janeiro, 8 de janeiro de1988, p. 4.
45 “Massacre”, Correio de Notícias,
ano vii, núm. 1976, Curitiba, 8 de janeiro
de 1988, p. 3; “pt quer cpi
para apurar o que aconteceu em Marabá”, Jornal do Brasil,
ano xcvii, núm. 280, Rio de Janeiro, 15 de
janeiro de 1988, p. 5.
46 “Para garimpeiros, há mais mortos”, Diário do Pará, ano v,
núm. 1625, Belém, 31 de dezembro de 1987, p. 8.
47 “Guerra de São Bonifácio. Guerras desconhecidas do
Brasil”, O Estado de São Paulo, ano 0, núm. 0, p.
20, São Paulo, 19 de dezembro de 2010.
48 “Guerra de São Bonifácio. Guerras desconhecidas do
Brasil”, O Estado de São Paulo, ano 0, núm. 0, p.
20, São Paulo, 19 de dezembro de 2010.
49 “Passados 10 dias, corpos não aparecem”, Jornal do Brasil, ano xcvii,
Rio de Janeiro, 7 de janeiro de 1988, p. 5.
50 “Delegado federal diz que pm
matou 20 em Marabá”, Jornal do Brasil, ano xcvii, núm. 266, Rio de Janeiro, 7 de janeiro de 1988,
p. 5.
51 “Hélio: Demonstração de Força para Desestimular
Garimpeiro”, Diário do Pará, ano v, núm. 1625, Belém, 31 de dezembro de 1987, p. 12.
52 “Comando da pm
diz que tropa só revidou ataques”, Diário do Pará,
ano v, n. 1625, Belém, 31 de dezembro de
1987, p. 8.
53 “Hélio: Demonstração de Força para Desestimular
Garimpeiro”, Diário do Pará, ano v, n. 1625, Belém, 31 de dezembro de 1987, p. 12.